17.4.13

Confissão


É uma justificativa injustificável o que eu faço. Porque eu bebo. Porque eu fumo. Porque eu fico louca. Faço isso por que é divertido. É certo e errado e eu não preciso escolher, não preciso esconder. Eu fico assim por que é uma fuga os olhares, das conversas a portas fechadas, aos sussurros que queimam na minha pele, uma fuga da classe média, as regras. É o cheiro impregnado no meu corpo quando eu volto pra casa tarde ou de carona, de segunda a segunda. O escudo do ataque acusador é você não saber pra onde esta olhando, é o “boa noite” e o lanche que você prepara casualmente em silêncio enquanto a tradicional matriarca passa a roupa e olha casualmente pra tv. Ela sabe. Ela não sabe. Ela emudece. A tv fala e deus está na tv e na pergunta que ela se faz: “aonde eu errei?”. Eu faço isso pra não mandar todo mundo se foder, parar de me tratar como se eu fosse uma coisinha, a propriedade do ninho.
Eu faço isso porque aquele garoto me rejeitou, outro me pegou e eu continuo me sentindo vazia e sóbria. Faço essas coisas tendo a ínfima esperança de morrer uma hora dessas e saber quem ia sentir a minha falta e pra onde eu iria, faço pra saber se eu sou uma boa escritora ou só uma daquelas pseudo neurótica. Era pra jogar tudo pro alto e não ser ninguém, pra virar um gato selvagem ou uma garota popular. Era pra arranhar aquele carinha lindo até sair sangue. Todo mundo se pergunta “aonde foi que ela errou?”  e comenta “eu nunca vou ser como ela” até o primeiro gole queimar na garganta, até as risadas surgirem e a sensação de liberdade seja mais real do que a pessoa sentada ao seu lado e você esquece por completo o que ela esta te contando, é pra sorrir, acenar e rir bastante com a ultima palavra da história “verdade” “né” “e você?” Apenas pra esquecer o quão ruim foi aquela prova, o quão monótona é a vida, é a esperança de mudança. É pra não pensar antes de dormir, é pro estomago esvaziar na privada durante a quieta madrugada. É pra pensar que a ultima vez seria a ultima, e mesmo assim fazer tudo outra vez. 

2.4.13


Olhos que espiam, olhos que escondem. Verde e Azul se encontram por uma fração de segundo e depois desviam. Olham pro livro procurando alivio, o cabelo cai sobre a vista e o coração quase sai pela garganta. Tudo parece ter mais cor, mais aroma de café porém nada interessa por tanto tempo, os olhos se voltam pra mesma direção, se pegam no ato, se encaram por um tempo que ninguém conta, desafiando. As bochechas queimam e então uma garçonete corta tudo quando vai atender a mesa, a coragem se esvai e só resta a timidez. Ele se levanta, paga conta e vai embora, a garota espera relutante olhando pro relógio de 5 em 5 segundos, se levanta, paga a conta e sai porta afora. Olhos que procuram o azul descobrem uma fumaça branca impaciente, verde e azul se reencontram, se desafiam, se seduzem e aquele embrulho no estomago aparece, verde esquece de respirar, azul esquece de tragar.
“ Quem é você?” ninguém pergunta e o barulho dos trovões dão lugar a pingos de chuva, um pingo cai na bochecha dela, outro no ombro dele e eles se apertam na pequena maquis em busca de abrigo. “E agora?” indaga o leitor impaciente e o dono do café. O cara apaga o cigarro e coloca as mãos no bolso enquanto a garota parece ter esquecido que estava usando saia e procura o bolso também, azul olha pro céu e verde olha pro chão. O ar em volta deles parecia suplicar para que as conversas que tinham na mente se tornassem palavras nas línguas afiadas e inquietas.
– Não para de chover, que frio – diz ela.
– Estacionei meu carro longe – murmurou ele.
E as palavras se perderam na chuva e no vento e ninguém cogitou voltar pra dentro do café. Azul notou  que as pernas da garota estavam cheias de pingos de chuva que desciam lentamente em direção ao chão, as pupilas dilatam e o azul se esconde. Verde observa perifericamente e nota, dá um meio sorriso e estremece de frio, de curiosidade. 
Então as gotas finalmente sessam mas nenhum dos dois se move. “Mas pelo menos o nome...” é de se esperar, ta certo. Não mata ninguém.
– V
– A
Cada um segue seu rumo e nem o destino sabe pra onde.